É facto conhecido que os russos têm a mania das grandezas, mas daí a fazer com que o Mundial de Sevens tenha sido um fiasco a nível organizativo ia um grande passo…passo esse que, a meu ver, foi dado.
Nas vésperas do início da competição os organizadores russos anunciavam a venda de mais de 109.000 bilhetes. Pois eu só posso concluir que os donos desses bilhetes ainda devem andar perdidos pelo parque Luzhniki à procura de um sinal que lhes indique onde está o estádio ou a tentar obter essa informação junto de um russo que, obviamente, não arranha uma palavra de inglês, francês, alemão, espanhol ou português…
Foi uma grande tristeza ver jogos muito bem disputados e um rugby de bom nível num ambiente tão desolador. Um estádio enorme quase sempre completamente vazio, sem ambiente, sem alma, sem chama…
Se juntarmos à falta de público o facto de o relvado estar a, pelo menos, uns 20 metros do pouco público, bem se compreenderá que não houve grande emoção durante os três dias de competição.
Mas o fracasso organizativo não ficou só por aqui.
Habituados que estamos a ver umas dançarinas a animar os tempos mortos nos torneios do IRB (bem me lembro também do Mundial do Dubai), e num país com tanta tradição na dança, esperávamos ver algo de parecido. Na verdade essa animação limitou-se a 3 passagens de uns 5 minutos cada no total dos 3 dias…nos momentos mortos nada se passava...a não ser a espera pelo jogo seguinte.
A cerimónia de abertura foi muito pobre (mais vale não fazer nada) e só serviu para mais um pouco de bazófia por parte do Ministro do Desporto e do Presidente da FRR (creio) e a de encerramento foi cancelada porque a chuva já tinha causado um atraso de 1h nos jogos.
Por falar nisso, a ideia peregrina de colocar um tapete de relva natural por cima do de relva artificial também foi genial, sobretudo tendo em conta as constantes escorregadelas dos jogadores...
Como já atrás referi, nem no estádio era fácil encontrar alguém que falasse outra língua que não o russo e para se poder comer ou beber foi sempre necessário recorrer à linguagem gestual. Sempre tem a sua piada dizer que se quer um “cachorro quente” com gestos. Talvez o melhor fosse ladrar e mostrar que estávamos a suar em bica…nós escolhemos outra possibilidade…
Por falar em suar em bica, é incompreensível como é que não havia cerveja à venda no estádio. Até no Dubai, terra muçulmana, se pode beber dentro (e só dentro) do recinto.
A organização também nos primou pela total ausência de sinais a indicar onde se jogava a competição feminina, o que nos fez andar às voltas pelo imenso parque até descobrirmos que o campo ficava a, pelo menos, 10 minutos a pé da porta mais próxima do estádio (gigantesco também ele). Colocar um sistema de “navette” entre os dois locais é ideia que não passou pela cabeça da organização…se pensarmos que às 10h30 já estavam 34ªC…
O merchandising era paupérrimo e nem programas da competição estavam disponíveis. Lá acabei por descobrir algo não oficial numa banca recôndita no 3ª dia. Queria comprar uma mascote para os meus miúdos mas as que vi não estavam à venda.
No que diz respeito à equipas, embora não esteja habilitado a fazer grandes comentários, as vozes que ouvi mencionavam também grandes lacunas organizativas, desde as condições do local para jogadores "players village"até à rábula do momento da partida com algumas equipas (isso eu assisti) a andarem a passear-se de aeroporto para aeroporto em busca de um vôo para regressar aos seus países de origem sem que alguém da organização os acompanhasse (lembro-me bem de ter andado a trocar bilhetes da easy jet à última hora no aeroporto de Faro quando os franceses se aperceberam que dois dos jogadores só tinham bilhete para dois dias mais tarde que os outros).
Para terminar (e aqui a culpa não é da organização) a evidente falta de sentido de humor dos locais também contribuiu para a falta de ambiente. Apesar de tudo, alguns estrangeiros iam equipados à Sevens, com máscaras e disfarces. Mas por muitas palhaçadas que fizessem, era impossível arrancar um sorriso àquelas carantonhas…
Factos que deveriam fazer o IRB pensar...
E isto foi no parque Luzhniki, porque as peripécias continuam fora dele…
1 comentário:
Manel, não estive lá, mas do que pude assistir no streaming disponibilizado pela IRB - de excelente qualidade! - não posso estar mais de acordo quanto ao que diz respeito ao público, ou à sua falta, à relva de cobertura ou às Cerimónias, a que houve e a que não houve.
Quanto ao gigantismo do estádio e ao ridículo da assistência, ainda fiquei mais surpreendido com os comentários do Chief Executive da IRB quando ele afirmou não estar nada preocupado com as bancadas vazias, pois a intenção fora mandar uma mensagem ao povo russo de interesse das entidades nacionais (russas) na modalidade...
A verdade é que o Mundial foi um fiasco - com a excepção da parte desportiva que não estamos aqui a falar - e a IRB vai ter que (re)encontrar o caminho certo, se não quiser matar a galinha dos ovos de ouro.
Hoje são já muitas as vozes que põem em causa o modelo da competição, a conjugação do masculino com o feminino, a qualidade da arbitragem - obviamente medíocre - que passa pela falta de critérios claros para o que se passa no jogo no chão, e, claro, nos critérios de escolha dos locais de realização do evento...
Que o desporto deixou de ser comandado por critérios desportivos, já se sabia, mas há que ter um mínimo de vergonha na cara, e pelo menos, disfarçar!
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