Brazão de armas de Heusenstamm
Pouco passava das 10h00 quando saímos com destino a Heusenstamm.
Heusenstamm? Mas que raio é isso? Não tão popular como Berlim, Munique ou a vizinha Frankfurt (Francoforte-no-Meno, para os puristas da língua), esta cidadezinha de 18.000 habitantes do estado de Hesse na Alemanha ficará ligada (pelo menos temporariamente) à história do rugby nacional. Adiante veremos porquê.
O GPS balbuciava num francês mecânico a direcção a seguir e indicava cerca de 250km até ao destino, sendo metade por autoestrada e metade por estrada nacional. Infelizmente não nos avisou imediatamente dos crónicos engarrafamentos nas autoestradas alemãs que causaram a explosão do radiador de um BMW que estava mesmo atrás de nós numa espécie de "pick and go" automóvel pelo que só acabaríamos por chegar depois das 13h15.
Fomos levantar os bilhetes (10€ cada) que o clube local tão gentilmente tinha reservado para nós (obrigado Karen) e enquanto esperávamos pelo último elemento do corpo expedicionário (vindo de Bruxelas) fizemos o nosso aquecimento, atacando as tradicionais wurst alemãs.
Com o aproximar da hora do jogo, fomos assistir e fotografar o aquecimento dos Lobos; tudo parecia estar bem. Dos alemães, nem sombra: talvez estivessem também a experimentar as wursts lá do sítio.
Chega a hora da verdade e depois do hino cantado a plenos pulmões (comme d'habitude), um minuto de silêncio pelas vítimas do mau tempo na Madeira. Como o speaker não deu qualquer tipo de informação, creio que o momento passou despercebido a quase toda a gente.
Portugal entrou a todo o gás, claramente com a intenção de não permitir aos alemães sonhar com altos voos (pese embora a proximidade do gigantesco aeroporto de Frankfurt).
Minuto 5, ensaio de Frederico Oliveira, com transformação de Pedro Cabral; 2 minutos mais tarde é Gonçalo Foro que marca o ensaio que seria transformado pelo mesmo Pedro Cabral. As coisas estão bem encaminhadas, Portugal controla o jogo a seu belo prazer e viria a marcar mais 2 ensaios antes do intervalo (Pipas e Francisco Fernandes); Pedro Cabral transformaria os 2 ensaios e juntaria mais 1 penalidade ao pecúlio pessoal. Pelo meio, uma tímida reacção do germânicos que só estiveram perto de marcar ensaio já perto da pausa, mas uma excelente placagem de Gonçalo Foro não o permitiu.
Com o intervalo viria a oportunidade de testar a qualidade da cerveja local. Tomaz Morais também deve ter pensado que seria um bom momento para fazer testes, pois começou a rodar a equipa logo na reentrada para a segunda parte.
Na segunda parte a historia não mudou: Portugal dominador e demolidor: ensaios de Diogo Mateus, Vasco Uva, Frederico Oliveira (2) e Pipoca Leal. Todos eles convertidos quer por Pedro Cabral (assinou mais 1 penalidade) quer por Joe Gardener.
Resultado final 0-69!!! Foi a festa para os portugueses presentes a quem os jogadores ofereceram as suas suadas camisolas. Um prémio para aqueles que, estando fora, vibram como loucos com os feitos do desporto nacional.
Depois das despedidas, da promessa de estar em Madrid e em Lisboa, das contas aos outros resultados e de se começar a ponderar uma eventual deslocação a Kiev, lá nos metemos à estrada para apanhar os mesmos engarrafamentos, agora em sentido contrário, mas com a satisfação de num dia bem passado termos ficado convencidos que com o espírito guerreiro dos Lobos somos capazes e vamos conseguir estar no Mundial.
Portugal esteve muito bem face a um adversário claramente inferior. Inferior, sim. Há que dizê-lo para não embandeirar em arco. Mas os Lobos foram responsáveis na maneira como abordaram o jogo e competentes a resolver as (poucas) dificuldades impostas pelos germânicos.
Foi um dia perfeito da selecção nacional: muitos ensaios, todos os pontapés aos postes transformados, quase todos os alinhamentos ganhos...enfim, uma excelente exibição a dar moral para os jogos difíceis que se avizinham.
Esperemos que a inspiração também marque presença contra espanhóis e romenos, já que a transpiração nós sabemos que está sempre presente.
A título de curiosidade, notei que no site do IRB e na ficha de jogo preenchida pelo Delegado da Fira, os números do Gonçalo Foro (11) e do Frederico Oliveira (14) estão trocados, pelo que em ambos os casos se atribuem 3 ensaios ao Gonçalo e apenas 1 ao Fred, quando na realidade é o contrário.
Cabral e Pipoca foram os portugueses chamados ao controlo anti-doping. Ainda bem que eu não fui, porque dava positivo de certeza.
Voltemos ao princípio: Heusenstamm fica na história do rugby nacional pois foi lá que, no passado sábado, a selecção nacional conseguiu a sua maior vitória de sempre.
E eu estive lá!
3 comentários:
eu também estive lá ! Excelente reportagem
As páginas do Mão de Mestre estão abertas para um cronista de alto calibre como tu!
E obrigado por esclareceres a história dos ensaios Fred/Foro.
Só ficou por esclarecer a questão das transformações: o Cabral fez cinco ou seis?
Fez 5! Até ser substituído foi o pontapeador de serviço e só foi substituído após o ensaio do Diogo Mateus.
A contagem é: P. Cabral - 5 transformações e 2 penalidades - J. Gardener - 4 transformações.
E muito obrigado pelas amáveis palavras e convite. Eu gosto imenso de escrever e tenho imensas experiências pessoais que gostava de pôr em papel...o que falta é tempo para o fazer.
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