Este espaço conjuga duas paixões: o rugby e o coleccionismo. Pretende dar a conhecer (aos poucos) a minha colecção filatélica já bastante avançada sobre o tema "rugby" e, simultaneamente, aproveitar esse pretexto para, aqui e além, opinar, divulgar e testemunhar sobre "coisas" deste desporto fantástico. Claro está que um dos objectivos é conquistar adeptos para este tipo de coleccionismo, fazendo com que se juntem a este MAUL DINÂMICO!

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Até quando vamos continuar a fazer milagres?

Tendo conseguido a qualificação como equipa residente do Circuito Mundial de Sevens na época passada, Portugal passou uma época muito difícil, que viria a culminar com a necessidade de disputar a manutenção do estatuto de residente em Londres.

A presença nacional no Circuito Mundial foi marcada por 3 qualificações para a Cup (a mais importante das Taças em disputa) que nos valeram 30 pontos e mais 5 pontos fruto de derrotas nas meias-finais da Shield (a menos importante das Taças). De comum entre elas está o facto de termos sempre (se a memória não me falha) perdido todos os jogos do 2º dia.

Portugal foi capaz do melhor e do pior; foi muito inconstante e, simultaneamente constante no acto de ter sempre realizado péssimos segundos dias.

Independentemente de concordar ou discordar das escolhas, Portugal utilizou bastantes jogadores nas 8 etapas (mais Londres), 21 se não me engano. Mas continuou dependente de um grupo restrito de jogadores que dão mais garantias por força, também, de uma maior experiência. Jogadores estes que estiveram também envolvidos no Campeonato Nacional e (pelo menos uma parte desse núcleo) nos trabalhos da equipa nacional de XV. Nestes últimos meses da época, a forma física destes não é a mais desejável e não fosse a sua abnegação e empenho, os resultados de Portugal seriam piores.

No Verão passado estive uma semana a acompanhar a equipa francesa durante a preparação e participação no Algarve Sevens; acompanho com regularidade o Circuito Mundial (ao vivo e na TV) e tenho a felicidade de poder discutir vários assuntos com intervenientes directos no circuito bem como outras pessoas ligadas ao meio.

Certamente se lembrarão que a equipa francesa era uma equipa perfeitamente ao nosso alcance e que tínhamos um balanço positivo frente aos gauleses. Pois, a fazer fé nos dados disponibilizados pelo “Mão de Mestre”, o saldo acabou de cair para o lado francês (20V contra 19V dos portugueses). Na época que está a terminar não ganhámos um jogo aos franceses (3 derrotas).

Situação parecida com a Escócia: esta época um saldo negativo de 5-2, sendo que a vitória em Lyon foi contra uma equipa escocesa de 2ª linha. Fora da Europa podia falar dos EUA ou do Canadá onde, por força dos resultados dos últimos tempos, a balança pende agora para os nossos adversários.

A verdade é que a introdução dos Sevens no programa olímpico veio modificar o panorama da variante (há quem diga que é outra modalidade). Vários países investiram a sério nos Sevens e os resultados começam a aparecer. E Portugal? Bem, a meu ver, Portugal continua dependente da boa vontade dos jogadores, dos seus patrões e professores…

Quando estive no Algarve, o presidente da FFR veio visitar as tropas. Chegou acompanhado de 4 Directores e veio decidir o futuro da equipa, que passava pela qualificação para o Mundial. Objectivo conseguido, tudo é planeado ao pormenor.

Permitam-me que vos explique aquilo que vi: um grupo que chegou antes de todas as outras equipas (quase uma semana antes do torneio começar), acompanhada de manager, treinador, preparador físico, médico, fisioterapeuta e 14 jogadores (dois deles jovens a aguardar o veredicto em relação ao seu futuro com a equipa).

Durante todo o tempo de trabalho físico (e durante os jogos também), os jogadores são seguidos através de um sistema de gps em que os seus índices físicos são escrutinados ao pormenor, permitindo (entre outras coisas) ao treinador tomar opções técnicas e tácticas com um fundamento, diria, científico.

Se espreitarem no site da FFR, verão também o acompanhamento médico a que são sujeitos, com análises de sangue a determinar o grau de “destruição” dos organismos. Curiosamente, parece que estes dados mostram que o esforço físico a que são submetidos os jogadores de Sevens é superior ao dos de XV, inclusive ao nível do contacto.

A FFR funciona com um grupo de 12 jogadores contratados e que se dedicam a 100% aos Sevens. Só treinam e jogam Sevens…e são pagos para o fazer. Consequentemente estão sempre à disposição do seu empregador. Em Portugal, há treinos a serem cancelados porque os jogadores não conseguiram libertar-se das suas obrigações para ir treinar (ou até jogar).

Quando há lesões, o treinador francês vai buscar jogadores aos clubes (esta época houve sempre alguém de fora no grupo). Em Portugal, tem de se experimentar um novo jogador, muitas vezes sem experiência, porque a base de recrutamento é infinitamente mais pequena que a da França (Escócia, Gales, Rússia, etc).

Além disso, o treinador tem à sua disposição jogadores com as características bem específicas para as posições (de acordo com a sua perspectiva) e não tem de andar a fazer adaptações. A um Gobelet pede-se que ganhe bolas altas e mantenha a posse de bola, mas não se pede que seja rápido a progredir, p.ex. Nós temos de andar a adaptar os disponíveis…

A alimentação é muito cuidada e, sem entrar em pormenores, uma das questões que foi discutida no verão no Algarve era o menu na cantina de Marcoussis que teria de ser diferente do menu dos outros. Isto para verem o grau de detalhe. Em Portugal há equipas nacionais de Sevens que (ao que leio é o caso das miúdas) têm de levar a sua água e a sua comida para os treinos.

Enfim, a nossa realidade é completamente díspar da francesa; pelo que pude observar escoceses, galeses, ingleses ou russos têm algo de parecido (com diferenças ao nível do estatuto dos jogadores, mas com um suporte tecnológico/científico similar). Isto na Europa…

Claro está que me vão responder que não há dinheiro. Eu sei. Como também sei que os outros têm mais dinheiro que nós. Compete-nos (à FPR) gerar receitas e administrá-las da melhor maneira. A perda de competitividade significa a perda de receitas quer ao nível dos patrocínios, quer ao nível dos organismos internacionais que regem a nossa modalidade.

Essa perda significará o fim do investimento no rugby português. Significará um retrocesso ao nível do contacto internacional que não será, de todo, fácil de recuperar (Sevens ou XVs).

E não serão, seguramente, os jogadores os responsáveis pela perda de competitividade, pois parece-me ser impossível dar mais do que eles dão. E se pensarmos na idade de alguns deles e na necessidade de renovação (que o seleccionador tem introduzindo aos poucos)…

Compete-nos a todos ajudar a encontrar sinergias e formas de aproveitar melhor os recursos (sobretudo financeiros) de que dispomos. Num mundo que já é profissional, a nossa boa vontade, capacidade de sacrifício e de superação nos momentos cruciais não vai funcionar sempre.

É preciso uma reflexão séria sobre o que se quer das nossas selecções, quais são os seus objectivos (realistas) num futuro próximo e agir em conformidade. E é preciso tratar bem os jogadores que temos...

O futuro não é muito risonho: até quando vamos continuar a fazer milagres?



PS - Entretanto, li o post do “Rugby de Lisbonne à Paris” em que se fala da necessidade de encontrarmos um jogador a que o Cláudio chama um “furador”. Pois a verdade é que, na minha opinião, também precisamos de jogadores velozes (para atacar melhor, mas também para defender melhor). Todas as equipas têm sprinters de qualidade. Nós temos o Duarte Moreira (afectado por problemas físicos neste final de época) e outros que, como é natural, já não têm a mesma velocidade de outros tempos, mas precisamos de mais velocidade capaz de passar a linha de vantagem por um buraquinho…

1 comentário:

Claudio disse...

Oï ! Ja pus outra vez o link para o teu site no meu blog, não sei o que aconteçeu !

A++