Este espaço conjuga duas paixões: o rugby e o coleccionismo. Pretende dar a conhecer (aos poucos) a minha colecção filatélica já bastante avançada sobre o tema "rugby" e, simultaneamente, aproveitar esse pretexto para, aqui e além, opinar, divulgar e testemunhar sobre "coisas" deste desporto fantástico. Claro está que um dos objectivos é conquistar adeptos para este tipo de coleccionismo, fazendo com que se juntem a este MAUL DINÂMICO!

segunda-feira, 22 de março de 2010

As lendas não se repetem, por muito que se queira

foto: Sport24.com
Olhando hoje friamente para trás, estou convencido que a nossa qualificação para o Mundial de 2007 foi digna de uma lenda ao estilo da Ala dos Namorados.

A verdade é que num país como o nosso, com as condições materiais que aquele grupo de jogadores teve para se preparar, com jogadores a fazerem centenas de km a guiar para treinar, com a falta de competição internacional que nos permitisse "crescer" foi, de facto um feito extraordinário que nunca é demais realçar. Foi o momento mais alto do nosso rugby e eu nunca irei esquecer a atmosfera de St. Étienne no dia do nosso jogo de estreia contra a Escócia. Tenho a certeza que aquilo que senti foi multiplicado por 1.000 nos corações de todos os que participaram directamente naquela aventura...

Esta equipa que agora terminou a qualificação para 2011 teve, quiçá, melhores condições (ligeiramente melhores, razoavelmente melhores?), mas a pergunta mantém-se: seria expectável a qualificação? Melhor: se não colocássemos todas as esperanças na força de vontade de um grupo que sempre foi inexcedível em dedicação e num treinador com capacidades motivacionais acima da média, que mais tínhamos nós como armas para fazer face a países com outra rodagem como, sobretudo, a Geórgia e a Roménia? Como podíamos nós combater com países com mais praticantes que nós, com muitos jogadores a jogar em campeonatos competitivos de alto nível e/ou onde as verbas disponíveis e as condições materiais para se prepararem são superiores às nossas?
Também a Rússia (que fez a sua preparação na África do Sul, lembro) ou até mesmo a Espanha estão à nossa frente neste último aspecto...
A verdade é que, estruturalmente, Portugal tem muito que caminhar...

Tenho pena da nossa não qualificação! Muita mesmo! Creio que o nosso rugby é mais bonito que o das 3 equipas que se qualificaram, que jogam (quase) apenas com base no poderio dos seus avançados.
Mas são mais realistas! Eu, como romântico que sou, gosto de ver Portugal jogar um rugby emotivo e não matemático, automático, tecnológico, sem chama, frio como o que jogam estas equipas. E, estou quase certo, os amantes do rugby prefeririam ver Portugal romântico no Mundial no lugar destas máquinas de melées e alinhamentos.

Mas o desporto profissional é assim mesmo: só muito raramente, como foi o caso do apuramento de Portugal em 2007 (ou da Dinamarca, campeã da Europa de futebol em 1992) as equipas românticas têm hipóteses de brilhar no que toca aos resultados finais. Mas ficam na memória das pessoas pela sua alma...

Portugal tem alma, muita! Quiçá até demais ao ponto de, por vezes, nos toldar a clarividência.

Agora é hora de juntar a esta alma, a esta vontade (e às muitas outras qualidades que os nossos Lobos têm) a frieza dos grandes campeões. E isso não se consegue num dia. Consegue-se dotando a equipa de condições materiais para trabalhar (ai, as promessas não cumpridas) e colocando estes jogadores a jogar com mais frequência contra equipas/jogadores mais fortes, com uma exigência diferente da nossa actual competição interna. Só cresceremos se conseguirmos ser capazes de ganhar este "calo" que permite ter o discernimento de tomar a opção correcta no momento adequado e nos permitirá ser ainda mais competitivos contra equipas/jogadores que estão habituados a isso todos os fins-de-semana.

Infelizmente, também as lesões que atingiram alguns jogadores que podiam ajudar a combater esse défice de experiência de alto nível, como Spachuck ou Sousa Bardy (embora jovem), a juntar a Murré para o último jogo, bem como a indisponibilidade de David Penalva na parte final da qualificação ajudaram a matar o sonho.

Acredito nas qualidades naturais dos nossos jogadores e sei que mais que eu ou você, eles estão tristes e desiludidos por não seguirem em frente. E também sei que deram o seu melhor, o seu suor e até as suas lágrimas. Desta vez o seu melhor não foi suficiente, mas fica a ideia que foi por pouco. Para a próxima, lá estarão, espero. Com a mesma vontade e a mesma ambição.
O que gostava de ver era criarem-se condições que proporcionassem a todos ser ainda mais competitivos. E para reunir estas condições temos de remar todos no mesmo sentido, sem invejas mesquinhas, críticas fáceis e pouco ou nada construtivas, dialogando e pondo de parte interesses individuais em prole do interesse da comunidade.

Eu sei que falar é fácil e não tenho soluções milagrosas. Elas não existem. Mas existem passos que poderemos dar, apesar da pequenez (mental e económica) do nosso país. Vou tentar abordar algumas das minhas ideias em próximos posts, tentando não ser absurdo e demasiado ambicioso por força da minha ausência desse (bonito) rectângulo à beira-mar plantado.

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